Gritos e Sussurros, 1972 

Gritos e Sussurros, 1972

Agnes (Harriet Anderson) vive o estágio terminal de um câncer. Karin (Ingrid Thulin) e Maria (Liv Ullmann) cuidam da irmã enferma. A partir desse mote, memórias e desilusões familiares desfilem à nossa frente por angustiantes 90 minutos.

 

Há 50 anos, Bergman dava aula de expressionismo

Ele é sueco. Mesmo assim, uma das maiores lições de Expressionismo Alemão no cinema quem nos dá é Ingmar Bergman, diretor que não pode deixar de figurar em qualquer lista de melhores de todos os tempos. E dentre seus filmes de caráter expressionista, provavelmente Gritos e Sussurros, que completa 50 anos em 2022, é o maior deles.

O enredo é simples: Quatro mulheres aristocráticas numa casa de campo: Três irmãs e uma empregada. Impossível não remeter às Três Irmãs, de Tchekhov. Porém, com muito mais pimenta.

Mesmo o espectador mais desatento ficará impressionado com a estética: silêncios profundos, closes abusados e cores vibrantes. Tudo no filme é branco, representando a pureza que as irmãs aparentam; e muito vermelho, revelando aquilo que elas não querem mostrar, mas que a todo momento desabrocha na tela como uma rosa de sangue.

Enquanto a protagonista morre, a história da família revive. Tudo para que nós, espectadores, descubramos, estupefatos, no final, o óbvio: a única que se importa com o passamento da moribunda é a silenciosa empregada, Anna (Kari Sylwan).

Para encerrar, mesmo com risco de spoiler, não tem como não comentar: após a morte de Agnes nos braços de Anna, as irmãs discutem o destino da empregada; propõem dispensá-la e dar-lhe pequena indenização. Mas, ao cabo, nem isso é feito: a empregada é dispensada sem indenização, nem nada.

Eis aí a cereja do bolo: Uma cereja bem vermelha! Vermelho-sangue, como tudo no filme! Brecht ficaria orgulhoso e você ficará chocado com o Expressionismo de Bergman!